Entre os múltiplos caminhos pelos quais o feminino dança na vida das mulheres contemporâneas, um deles é a posição da mãe da mãe. As mães não apenas dão vida aos filhos, mas também à figura da avó—que, em muitos casos, pode exercer uma função ainda mais devastadora do que aquela da própria mãe. Afinal, a avó é mãe duas vezes: mãe do neto e, de certa forma, mãe da filha que agora se torna mãe.
A chegada de um bebê mobiliza intensos movimentos psíquicos e familiares. Já se afirmou inúmeras vezes que o amor materno é um amor que se estende para outro ser, depositando suas particularidades em uma vida que deve se constituir separada da mãe. No entanto, a separação é o ponto central desse processo. Quando não ocorre adequadamente, quando não há delimitação clara entre os lugares ocupados pela mãe e pela avó, abre-se caminho para formas de adoecimento psíquico que afetam não apenas o bebê, mas toda a dinâmica familiar.
Não falo apenas por observação, tampouco em nome da ciência, mas a Psicanálise há tempos nos ensina sobre a importância do lugar da Mãe e da Mulher na constituição do sujeito. A mãe precisa atravessar um percurso singular de união e separação com seu filho—a passagem entre ser um objeto de desejo materno e um sujeito autônomo. Se a avó busca ocupar um espaço ativo nesse processo, interferindo no movimento de diferenciação, há o risco de rupturas na construção psíquica do bebê e na própria identidade materna da filha.
Quanto maior a sobreposição de funções, mais difícil se torna a demarcação simbólica dos lugares: quem sou eu enquanto mãe e mulher? Essa confusão pode resultar em uma relação especular entre mãe e avó, dificultando o processo de subjetivação e a autonomia da criança.
Vale lembrar que a regulação do lugar materno frequentemente passa pela função fálica da Mulher, um mecanismo comum para equilibrar os desafios da maternidade, muitas vezes vivida com angústia. O essencial, nesse cenário, é reconhecer as diferenças e aprender a auxiliar sem assumir um papel ativo na subjetivação da criança.
